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Anielle Guedes

Admirável ano novo: o que esperar da tecnologia em 2020

Anielle Guedes

03/01/2020 12h00

Muitas revoluções ocorreram na última década e nós pudemos vivenciar a evolução da tecnologia dentro de nossas casas. Os celulares mudaram diversas vezes e agora são parte integral de nossas vidas, a internet se tornou mais rápida, os conteúdos que consumimos mudou e as distâncias diminuíram. Agora, com a chegada em 2020, as expectativas com relação à revoluções tecnológicas estão cada vez mais altas. O que esperar do ano novo em relação à tecnologia? Em que devemos manter nossas atenções? Confira as principais tendências tecnológicas do novo ano e o que elas dizem a respeito de nossa próxima década.

Férias no espaço?

As pessoas que sempre sonharam em se tornar astronautas e explorar o espaço (e que têm dinheiro para isso) poderão, finalmente, realizar seus sonhos de chegar mais longe. Duas naves espaciais construídas nos Estados Unidos devem começar a transportar tripulações neste ano: a CST-100 Starliner da Boeing, que transporta até sete astronautas em órbita, e a cápsula SpaceX Dragon que passará por alguns testes finais no início de 2020, e em breve estará pronta para uma missão tripulada.

A Blue Origin, que é propriedade do CEO da Amazon, Jeff Bezos, deverá ficar pronta para levar passageiros até seu foguete suborbital New Shepard. Já a Virgin Galactic, que recebeu mais de 600 depósitos de 250 mil dólares em bilhetes, também pode estar pronta em 2020 para levar os passageiros ao espaço, mais de uma década depois do que o esperado.

O retorno dos celulares de flip 

No início dos anos 2000, o celular Motorola V3 era o ápice da tecnologia móvel – todo mundo queria garantir o seu. Hoje, após 15 anos, o V3 faz o seu retorno como o Razr, um smartphone de tela flexível. Essa deve ser uma das maiores tendências entre os smartphones em 2020. A Samsung realizou o lançamento de seu celular dobrável neste ano, porém com resultado um pouco ruins. Vários revisores quebraram as telas e a empresa teve que fazer melhorias antes de colocar o aparelho a venda.

Outros dispositivos devem chegar ao mercado com telas dobráveis, entre eles um tablet da Samsung. A TCL, a segunda maior fabricante de TVs da China, prometeu lançar seu primeiro dispositivo móvel dobrável em 2020, seguido por outros produtos e um investimento de cerca de 5 bilhões de dólares no desenvolvimento desses dispositivos. Essa mudança promete, ainda, uma revolução para outros tipos de dispositivos, como alto-falantes inteligentes que podem ter monitores envolvidos em suas estruturas, geladeiras com telas grandes e dispositivos parecidos com relógios com tiras como monitores.

Por falar em wearables…

O aumento humano será uma das tendências mais importantes do próximo ano e os wearables vão encabeçar essa mudança. Se hoje os celulares são uma extensão de nosso corpo, em breve dispositivos mais avançados vão monitorar nossos sinais vitais e aprimorar nossas experiências cognitivas e físicas. A biotecnologia vai gerar wearables que poderão medir nossa temperatura e "prever" se estamos ficando doentes, encontrando uma farmácia que entregue o medicamento apropriado para aquele sintoma. E não é só isso.

O aumento físico poderia ser feito por meio da hospedagem de uma tecnologia dentro ou sobre o corpo dos usuários. Por exemplo, as indústrias automotiva ou de mineração seriam capazes usar wearables para melhorar a segurança do trabalhador e em outros setores eles serão usados para aumentar a produtividade. Esse aumento físico se enquadrará em quatro categorias principais: aumento sensorial (audição, visão, percepção), aumento de apêndices e funções biológicas (exoesqueletos, próteses), aumento de cérebros (implantes para tratar convulsões) e aumento genético (terapia somática de células e genes).

Conexões cada vez mais rápidas

É bem possível que ao ouvir falar sobre essas novas tecnologias, você se questione: como fazer tudo isso com a velocidade atual da internet? Afinal, ultrapassamos uma longa jornada desde a internet discada, mas ainda assim encontramos dificuldades por conta da lentidão das conexões ou por conta do baixo alcance da rede. A chegada da internet 5G e a possibilidade de telefonia móvel de alta velocidade vai acelerar essas mudanças e permitir serviços cada vez mais rápidos.

Até o final de 2019, cerca de 40 redes em 22 países estavam oferecendo serviço 5G e até o final de 2020 esse número mais que dobrou para cerca de 125 operadoras. A Vodafone já está oferecendo contratos com base na velocidade no Reino Unido. Também no Reino Unido, a rede 3 deve promover sua oferta de 5G como uma alternativa à banda larga em casa, dizem analistas. Isso pode atrair pessoas que se deslocam muito e não querem um serviço de linha fixa.

Aqui no Brasil, o Governo Federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações apostará no uso de antenas parabólicas para o 5G. A decisão é defendida pelas operadoras de telecomunicações e é aguardada pela Anatel para avançar na definição do edital de venda de licenças do novo padrão. 

Grandes desafios demandam grandes computadores

A tecnologia vem avançando muito nos últimos anos, porém não o bastante para lidar com problemas complexos. Será que em 2020 teremos, finalmente, computadores quânticos prontos para lidar com esses desafios? Há alguns meses, o Google afirmou que seu computador quântico realizou em 200 segundos uma tarefa que um supercomputador levaria cerca de 10 mil anos para concluir. 

Outras empresas estão investindo alto em computadores quânticos, como IBM, Rigetti e IonQ. Caso essas empresas consigam, de fato, avançar na tecnologia de computação quântica, pesquisadores serão capazes de avanços importantes nas áreas de química, produtos farmacêuticos e engenharia. A Google, inclusive, afirmou que disponibilizará seu computador quântico para o uso de pessoas fora da empresa em 2020. É uma notícia promissora.

Sustentabilidade vs. tecnologia

Talvez uma das questões mais urgentes do mundo atual e um dos maiores desafios já enfrentados pela humanidade seja lidar com os impactos ambientais de nossas ações. Nos últimos séculos, os seres humanos conquistaram muito, sem grandes preocupações com os recursos naturais. Agora, a conta chegou e a tecnologia precisará ser uma aliada nessa luta.

Os fabricantes de produtos eletrônicos precisam de uma resposta urgente aos problemas que vêm causando com a grande produção e descarte de aparelhos. Essas grandes empresas ficarão sob pressão para desenvolverem processos de produção mais ecológicos e logística reversa de aparelhos que realmente funcione. 

Empresas de computação em nuvem e de mineração de bitcoins também precisam repensar suas instalações de trabalho que abrigam milhares de servidores e usam quantidades enormes de energia. Como lidar com essa demanda gigantesca por mais espaço na nuvem, sendo que as fontes de energia utilizadas atualmente não são sustentáveis?

Ainda existem muitas outras tendências importantes: a inteligência artificial e o reconhecimento facial, por exemplo, serão cada vez mais presentes em nosso dia a dia. Os assistentes pessoais devem chegar a muitas casas ao redor do mundo, dando ainda mais espaço aos comandos de voz. Isso sem falar na automatização e nos robôs que surgem anualmente como solução de problemas rotineiros.

As expectativas são grandes e os últimos anos são um bom exemplo de que os avanços devem ser cada vez mais rápidos. Se tivesse que apostar, qual dessas grandes tendências você diria que será a mais importante do novo ano? 

Sobre a autora

Anielle Guedes estudou Física e Economia na Universidade de São Paulo e sem concluir os cursos de graduação embarcou em uma pós graduação nos Estados Unidos sobre inovação disruptiva na Singularity University (localizada em uma base da NASA). Assim virou especialista em tecnologias emergentes, foresight e desafios globais. Fundou uma startup de impressão 3D e manufatura avançada para construção, a qual liderou por 4 anos e atuou no Brasil, Estados Unidos e Europa. Foi eleita pela Forbes, MIT e Bloomberg como uma das jovens mais inovadoras do mundo. Tornou-se consultora em inovação e desenvolvimento econômico, participando de projetos de advisory e advocacy em governos federais e organismos multilaterais, além de ser conselheira de organizações como o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Palestrou em mais de 30 países. Atualmente cursa Economia e Ciência Política pela Universty of London, London School of Economics.